A cultura é inseparável da nossa vida, pois todo modo de vida se traduz em um acúmulo de práticas culturais. A dimensão da cultura popular, principalmente, dos povos camponeses influenciou, em grande parte, muitas outras culturas, inclusive, urbanas. No entanto, uma cultura tão poderosa, vem enfrentando, nos últimos anos, processos de desvalorização e caindo no esquecimento. É importante salientar que cultura e povo não se separam, sendo assim, invisibilizar a cultura popular camponesa é, ao mesmo tempo, enfraquecer o povo camponês.
Essa problematização foi levantada pelos projetos comunitários aprovados no Edital PPP-ECOS GEF 7 do Instituto Sociedade População e Natureza (ISPN) no contexto da Paisagem Chapada das Veredas. Um conjunto de atividades de fortalecimento e de resgate das tradições culturais foram garantidas, mas, acima de tudo, os projetos reposicionaram a cultura pontuando-o enquanto dimensão transversal. Acrescenta-se também, a participação de crianças, jovens e mulheres, públicos prioritários nas ações dos projetos.
O formato das oficinas de cultura popular parte do princípio do encontro das comunidades, da criação de espaços para a visibilidade, para o aprender e o fazer, fortalecendo laços de união, de trocas, de alegria que são características primorosas dos povos da Chapada das Veredas.
No dia 28 de abril, na Comunidade Campo Buriti, a oficina promoveu uma tarde cheia de vida, de sorrisos, de cantorias e emoção. A cultura ilumina o esperançar dos povos, é a liga que une luta e utopia, projetando os povos na ocupação dos lugares que almejam chegar. Para iniciar a oficina, Dona Faustina, uma das líderes da comunidade, apresentou uma mística em que alguns símbolos do povo groteiro e chapadeiro foram colocados em evidência para uma reflexão profunda das lutas que estão sendo travadas em detrimento à devastação da terra empobrecida, da água escassa, da morte dos rios, da destruição da monocultura.
Dona Faustina apresentou o coco licuri e o pequi, seu João apresentou a terra da chapada, Ducarmo apresentou a água e a Têra apresentou a terra da grota. A reflexão provocada foi de que essa natureza está sofrendo pelas mãos da ganância do capitalismo que explora de maneira desenfreada e, ao mesmo tempo, explora-se também os povos desse território. A cultura popular é resistência e enquanto manter vivas as danças, as cantigas, as comidas, o artesanato, o modo de vida, o povo groteiro e chapadeiro permanece e alonga suas raízes na Chapada das Veredas.
Envolvidos nessa magia, o grupo de cultura Resgate de Saberes chamou todos os participantes para dançar roda e jogar versos. Dentre tantas melodias entoadas, destaca-se "Carvão no fogo, quero ver carvão queimar, quero rodar com você até a poeira levantar", "Chora bananeira, bananeira chora, chora bananeira, adeus que eu já vou me embora". Depois das cantigas de roda, houve a dança do vilão cumprido e o vilão de quatro, além das clássicas músicas caipiras entoadas em coro.
A dança do vilão, do nove, as cantigas de roda, as folias, o bolo cabo de machado e o biscoito de goma criam elos de ligação dos povos da Chapada das Veredas. No fechamento da oficina, houve a partilha de um café da tarde com muitas quitandas e um forrozinho de safona ao vivo de fundo musical.